REGISTROS DO PROFESSOR
Para quem dá aulas, o registro representa muito mais que um roteiro de aula ou uma enumeração de atividades desenvolvidas com a turma. Escrever sobre a prática faz pensar e refletir sobre cada decisão que foi ou será tomada, permitindo aprimorar o trabalho diário e adequá-lo com frequência às necessidades dos alunos.O planejamento do professor permite o mesmo por exemplo antecipar o que pretende alcançar em sala de aula e pensar em como trabalhar com o grupo evitando assim estar sempre improvisando.
Já os registros depois das aulas, é possível se questionar sobre o que aconteceu em classe e identificar as conquistas da turma e os conteúdos que ainda precisam ser mais bem trabalhados.
Paula Stella,Coordenadora Pedagógica do Centro de Educação e Documentação para Ação comunitária (Cedac) em São Paulo,afirma "Ao escrever, é inevitável que surjam perguntas sobre se a organização da sala colaborou ou não para atingir os objetivos desejados. O Saldo da avaliação serve de base para o planejamento de ações futuras". É preciso, porém, diferenciar os vários tipos de registro.
Segundo o educador Miguel Zabalza, "Há aqueles com características basicamente burocráticas. São aqueles que contêm apenas os temas abordados, as presenças e as faltas. Seu valor é relativo têm pouco a ver com a qualidade do trabalho docente".
Os registros mais interessantes são os que se referem às discussões críticas da turma, apresentam observações sobre o processo de ensino e aprendizagem, reproduzem frases das crianças e reúnem exemplos da produção. " Seja, são os que permitem construir o círculo da qualidade de ensino: Planejar, realizar, documentar, analisar e replanejar", completa Zabalza.
Planejar um ciclo como esse - em que os registro das aulas alimentam novos planejamentos, dos quais nascem projetos enriquecidos - não é tarefa simples e quando compartilhada com o coordenador pedagógico se torna ainda melhor.
Em Parceria é melhor
Em cada uma das escritas reflexivas feitas pelo professor, há elementos para que ele cresça como profissional e melhore seu desempenho, desde que elas sejam compartilhadas com um formador que o oriente. Esta é uma das mais importantes funções do Coordenador Pedagógico: enxergar as conquistas dos membros da equipe e as dificuldades que cada um enfrenta em sala de aula para escolher a melhor maneira de orientá-los.
Os registros podem ser:
- Planejamento (atividade permanente, sequência didática e projeto didático);
- De classe (notas, pautas de observação e diários);
- De avaliação (relatórios individuais e coletivos).
Alguns são mais usados, como os diários, que, pela sua flexibilidade, permitem cobrir diversos propósitos.
■ ATIVIDADE PERMANENTE
O que é Trabalho didático realizado regularmente (diária, semanal ou quinzenalmente), como ler para os alunos, organizar rodas de conversa e reservar uma aula da semana para a produção de pinturas e desenhos no ateliê.
Objetivos Familiarizar a turma com um conteúdo e formar hábitos. Ao fazer leituras diárias, por exemplo, as crianças aprendem sobre a linguagem escrita e desenvolvem comportamentos leitores.
Organização Prever objetivos, conteúdos, duração da atividade, materiais necessários e como será feita a avaliação.
Como usar Realizar atividades permanentes não significa fazer sempre a mesma coisa. A proposta deve ser empregada com regularidade durante o ano ou um semestre e oferecer novos desafios (rodas de leitura em que livros cada vez mais difíceis são lidos pelo professor).
■ SEQUÊNCIA DIDÁTICA
O que é Série de atividades envolvendo um mesmo conteúdo, com ordem crescente de dificuldade, planejadas para possibilitar o desenvolvimento da próxima.
Objetivo Ensinar conteúdos que exijam tempo para aprender e aprofundamento gradual, como o reconhecimento das características de uma paisagem brasileira em Geografia, uma série de experiências para observar a ação de micro-organismos em Ciências ou a leitura da obra de um autor em Língua Portuguesa.
Organização Prever a ordem em que as atividades serão propostas, os objetivos, os conteúdos, os materiais, as etapas do desenvolvimento, a duração e a maneira como será feita a avaliação.
Como usar A maioria dos conteúdos exige tempo para aprender. Por isso, a sequência didática é a modalidade organizativa mais presente no planejamento. Escolher os conteúdos mais importantes, organizar a série, garantindo a continuidade, e distribuí-los durante o ano. O número de atividades de cada sequência é variado, assim como o tempo de duração (ambos dependem do objetivo e da resposta da turma às propostas).
■ PROJETO DIDÁTICO
O que é Conjunto de ações para a elaboração de um produto final que tenha uso pela comunidade escolar. Uma de suas características é envolver a turma em todas as etapas do planejamento.
Objetivo Reunir conteúdos abrangentes, atingindo propósitos didáticos e sociais. Um projeto de leitura e escrita, por exemplo, em que os estudantes fazem um livro de receitas ensina a ler e escrever e trabalha com valores nutricionais. Pode ter como meta mostrar à comunidade como aproveitar as frutas regionais.
Organização Prever os momentos de planejamento e de discussão em grupo e os de trabalhos individuais. Colocar justificativas, aprendizagens desejadas,etapas do desenvolvimento, produção, maneiras de divulgar o produto final, duração e avaliação final.
Como usar A duração é variada, mas sempre ocupa dois meses ou mais. Por isso, o ideal é propor um ou dois por ano para cada turma. Desenvolve-se o conjunto das atividades do projeto sem abandonar as atividades permanentes e as sequências didáticas.
Registros de classe
Notas, pautas de observação e diários ajudam a acompanhar o desenvolvimento dos alunos e são uma fonte de aprendizado para o professor. Juliana Diamente, que dá aulas para a 1ª série(hoje seria 2° ano) da EE Professor Flávio Xavier Arantes, em Guarulhos, na Grande São Paulo, elabora pautas de observação ao menos seis vezes por ano: "Com elas, consigo verificar a evolução da turma ao longo do ano e ganho dados para fazer avaliações". Conheça os modelos de registros de classe:
■ NOTAS
O que são Anotações curtas feitas nas aulas, como frases, comentários dos alunos, perguntas e dúvidas levantadas por eles, conteúdos a serem pesquisados, informações para checagem etc.
Objetivo Lembrar momentos importantes e não perder dados significativos do processo de ensino e aprendizagem.
Organização Deixar sobre a mesa uma prancheta, sulfites e canetas. Não é preciso se preocupar com a ordem nem com a profundidade dos apontamentos.
Como usar Elas serão a base de planejamentos futuros, relatórios mais detalhados sobre projetos ou atividades e dos relatórios de avaliação dos alunos.
■ PAUTAS DE OBSERVAÇÃO
O que são Tabelas de duas ou mais entradas, nas quais aparecem o nome dos alunos e os conteúdos didáticos ou atitudinais a ser observados.
Objetivo Acompanhar a evolução do aprendizado de um ou mais conteúdos ao longo do ano.
Organização Tabular os nomes e os as pectos a serem analisados. Legendar a tabela com conceitos ou cores referentes a um estágio de aprendizagem. Preencher durante ou logo após a atividade.
Como usar De tempos em tempos, é preciso fazer a análise e a comparação das tabelas. Quanto maior a frequência com que elas forem preenchidas e analisadas, mais informações se tem sobre o avanço de cada estudante e mais rápido é possível fazer intervenções.
■ DIÁRIOS DE AULA
O que são Narrativas sobre o que aconteceu na sala de aula, tanto em relação a comentários e produções dos alunos como em relação a si mesmo (impressões e reflexões).
Objetivos Refletir sobre o planejamento e sua adequação às necessidades dos alunos, ter pistas sobre os rumos que se pode tomar, documentar o trabalho feito com a turma e aprofundar ideias para serem usadas no futuro.
Organização Ter um caderno reservado para o diário (ou um arquivo no computador) e escrever nele logo depois da aula, ou nos dias posteriores, para que os fatos não sejam esquecidos. O mais importante é registrar o maior número possível de dados, sempre ref letindo e avaliando a prática pedagógica e não apenas listando as atividades.
Como usar Uma das principais utilidades é o compartilhamento com o coordenador pedagógico, que poderá, com base nas ref lexões do docente, ajudar a reavaliar sua prática pedagógica. O ideal é escrever com frequência e recorrer aos diários quando planejar e avaliar.
Avaliação
Reunir o material produzido por cada aluno e relembrar as vivências em sala para fazer um relatório requer dedicação. A professora Simone Figliolino, da EMEF Zilka Salaberry de Carvalho, em São Paulo, vê nesse documento que prepara regularmente para mandar aos pais uma forma de relacionar a teoria com a prática: "Depois de algum tempo, retorno a eles e aprendo com as situações".
■ RELATÓRIO
O que é Avaliação do desempenho de uma criança ou do grupo durante um determinado período.
Objetivo Documentar o desempenho dos estudantes para comunicar às famílias as aprendizagens.
Organização Pautas de observação, notas e diários são fundamentais na hora de elaborar os relatórios. Nas escolas onde não há um modelo, uma dica é começar com um breve relato do que foi trabalhado com a turma naquele período. Em seguida, para cada aluno, relatar como foi o avanço global em relação aos objetivos iniciais. Vale lembrar que elementos como falas e desenhos enriquecem o registro e facilitam o diálogo com a família. O coordenador pedagógico deve aparecer como corresponsável pelo documento, com quem o professor compartilha o material e ref lete sobre ele.
Como usar Cada escola trabalha com uma periodicidade para enviar a avaliação aos pais - bimestral, trimestral ou semestralmente. Em todos os casos, é preciso começar a produção dos relatórios com antecedência, pois o detalhamento requer tempo e reflexão.
Artigo extraído da revista escola da editora abril com algumas adaptações.
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